Archive for março, 2011

Solo

Com audaciosa imaginação e brilhantismo lírico, Rana Dasgupta pinta um retrato do século XX por meio da história de um cego centenário. No primeiro movimento de Solo, conhecemos o búlgaro Ulrich, filho de um engenheiro ferroviário. Ele tem duas grandes paixões: o violino e a química. Rejeitado pelo pai, Ulrich vai à Berlim de Einstein para estudar com Fritz Haver. Porém, quando a fortuna da família evapora, ele tranca o curso e volta a Sófia para cuidar dos pais. Ulrich nunca mais deixa a Bulgária, exceto em seus devaneios – e são estes os sonhos que conhecemos no volátil segundo movimento do livro. Em um salto radical do passado para o presente, da vida vivida para a vida imaginada, Dasgupta segue com a fantasia infantil de Ulrich, nascido do comunismo, mas trilhando seu caminho no mundo pós-comunista marcado pelas celebridades e pela violência. Entrelaçando ciência e desgosto, o velho e o novo mundo, o real e o imaginário, Solo anuncia a voz de um virtuose da literatura.

Autor: Rana Dasgupta

Ano: 2011

Páginas: 352

Editora: Benvirá

 

Lembranças

Há lembranças que eu gostaria de mergulhar em um mar profundo, onde jamais poderia alcançá-las. Apagar definitivamente dos meus pensamentos. Ou então lançá-las em um abismo, infinitamente profundo. Porém, o ato de lembrar é involuntário. Subitamente, acontece. Hoje é um desses dias em que não consigo domar minhas recordações. Simplesmente vejo, em minha mente, seus cabelos grisalhos, seu sorriso, a forma em que me acariciava, seu corpo pequeno, seus olhos verdes acinzentados e até consigo sentir o gosto do seu macarrão com molho de carne moída. Mas recordo, também, das cenas tristes que assisti, que infelizmente, ela era a protagonista.

Visitá-la no hospital me machucou, e ainda me machuca. Segurá-la no colo, com os seus trinta e poucos quilos. Ela, que já era magra, parecia estar sumindo aos poucos. O câncer estava vencendo a guerra e ela definhava. Seus pulsos estavam marcados pelas ataduras que os médicos foram obrigados à amarrar, para que ela não se autoflagelasse. Delirava. São lembranças que voltam, e doem. Em maio, completa mais um ano que ela não está entre nós. Quatro anos sem mergulhar naquele olhar e sentir suas mãos em meus cabelos. Apesar da pouca frequência em que nos víamos, eu a amava, muito. Sofri tanto!

Não sei o por quê escrevo isto. Talvez seja apenas um desabafo, enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto. Mas lembrar faz bem, significa que estou vivo. Lembrar fortalece e alivia as dores da alma.

Sinto sua falta, vó.

Jesus deixaria!

Era sexta-feira, por volta das 22h30. Julia e Ana caminhavam na Augusta ladeira abaixo. Após comerem um lanche qualquer no McDonald’s da Paulista, as duas procuravam o lugar em que se divertiriam durante o resto da noite. Ao contrário da minoria que estereotipa a avenida, as duas estavam comportadamente vestidas. Calças jeans, sandálias  de salto e regatas – de Julia, Branca, de Ana, vermelha – e belos colares monocromáticos, que não lhe custaram mais do que R$20,00, juntos.

Dificilmente, as duas se acariciavam ou se beijavam nas ruas. Não por vergonha, sim por acreditarem que as pessoas ainda não estão preparadas (quem sabe estarão um dia?) para tanto. Porém, o ambiente lhes dava a liberdade de caminharem, pelo menos, de mãos dadas. Julia virou-se para companheira com aquele olhar de gato pedinte – imortalizado em Shrek. “O que você quer?”, perguntou Ana, com um tom carinhoso. “Preciso ir ao banheiro”, respondeu. Olharam ao redor e não encontraram nenhum lugar em que o uso do toilet não seria cobrado. “Veja”, disse Julia apontando para alguns metros à frente. “Vamos ali na igreja. Estou muito apertada”. Por respeito, soltaram as mãos. O homem que as recepcionou na porta usava um crachá que lhe rendia o epíteto “diácunum”, ou algo parecido. “Moço, podemos usar o banheiro?”, questionou Ana. Ele as mediu, do frizz de cabelo mais alto ao fim do salto. “Não. É só para quem tá no ‘curto'”, respondeu – grosseiramente, por sinal. Indignada, Ana não hesitou e soltou a frase: “Puxa! Jesus deixaria”. Como resposta, o “diácunum” levantou os ombros, inclinou a cabeça e virou-se, dando-lhe-as as costas.

Elas lembraram do episódio durante toda noite. Curiosas, ao adentrarem em casa, pela manhã, abandonaram bolsas e celulares no sofá e se dirigiram ao computador. Lançaram a palavra “diácunum” na Internet. Inteligentemente, o Google perguntou: “Você quis dizer: diácono?”. Apesar do singular “você”, era exatamente esse o termo que procuravam. O resultado foi encontrado na primeira página sugerida, a Wikipédia. “Um diácono (do grego antigo διάκονος, ministro, ajudante) são os ajudantes dos líderes de uma igreja particular local, e por sua vez, aspirantes a futuros líderes.”

A religião sempre esteve presente na infância de Ana. Sua mãe era a responsável em abrir e fechar a pequena igreja do bairro, que tinha nome de assembleia, mas de Belém. Ela lembra de pouquíssimas passagens bíblicas. Entretanto, uma era sempre citada pela mãe. “(…) Na verdade reconheço que Deus não faz acepção de pessoas.” É aquela velha história, Deus ama a todos, igualmente. “Mas por que apenas alguns podem usar o banheiro da igreja”, questionaram. “Vai saber! Nem as garotas de programas fazem segregação de clientes”, observou Ana.

Capela de São Miguel Arcanjo é reinaugurada após sete anos de restauro

Fotos: Felipe Godoy

As nuvens que escondiam o sol na manhã do último domingo (20), não encobriram a alegria que sobrevoou São Miguel Paulista. Após sete anos de restauração, a Capela de São Miguel Arcanjo, localizada na praça Pe. Aleixo Monteiro Mafra, foi reaberta. A igrejinha, datada de 1622, é considerada a mais antiga da capital paulista e seu processo de reparação custou cerca de R$ 6 milhões. As visitas públicas terão início a partir do próximo sábado (29).
A cerimônia de reinauguração contou a presença de autoridades políticas e religiosas. Entre eles, o governador Geraldo Alckmin, o secretário de Estado da Cultura, Andrea Matarazzo (que, sem querer, confundiu o sobrenome do pratono de São Miguel. José de Anchieta virou José de Andrade), o cardeal arcebispo emérito de São Paulo, D. Claudio Hummes, o bispo emérito de São Miguel, D. Fernando Legal e o bispo diocesano local, D. Manoel Parrado Carral. Entretanto, os principais protagonistas da festa foram os antigos moradores do bairro, que se emocionaram ao ouvir, após anos de silêncio, o sino da capela soar.
Na oportunidade, foi inaugurado o Circuito de Visitação da Capela, que exibirá ao público achados arqueológicos e imagens sacras dos séculos 16 a 18, destruídas por um vândalo há mais de 40 anos e totalmente recuperadas. Entre as imagens, estão a de São Miguel Arcanjo e a de Nossa Senhora com o Menino Jesus. Esta última é creditada ao Frei Agostinho de Jesus, considerado por historiadores o escultor da imagem achada por pescadores que deu origem à adoração de Nossa Senhora Aparecida. A mostra conta, ainda, com painéis e totens, que descrevem a história do bairro, um dos mais antigos de São Paulo, fundado pelo jesuíta José de Anchieta. Durante o evento, também foi lançado o livro “Capela de São Miguel: Restauro, Fé e Sustentabilidade”, que retrata o projeto de restauro em seu processo de execução e fundamentos técnicos.
A visita à Capela poderá ser feita nas quintas e sextas-feiras, das 10h às 16h, e aos sábados, das 11h às 16. É preciso agendar pelo telefone (11) 2032-3921 e a entrada custa R$4.

  • Uma observação…

Hoje, foi um dia de emoção. A Capela de São Miguel Arcanjo tem um significado singular para mim. Ela foi o centro de um período – não muito distante, confesso – importante da minha vida, o fim da faculdade. Porém, o evento de reinauguração foi direcionado a um público seleto (para não dizer político), o que considero uma falta de respeito à população do bairro. Sei que a capelinha não tem estrutura para suportar um grande número de expectadores, entretanto, centenas de pessoas testemunharam, ao longo do século passado, o desenvolvimento do bairro em torno da igreja. Encontraram nela abrigo, paz, amizades. Lá brincaram, ouviram sermões e sonharam. Limitar a poucos a chance de presenciar um momento histórico no lugar que fez (ou ainda faz) parte da vida de muitos, chega a ser injusto.

Esta matéria também pode ser lida no portal de Notícias  http://www.saomiguelpaulista.com.br/



Nos muros do Itaim…

Este grafite está gravado na parede de uma passarela interditada próximo à estação Itaim Paulista, da CPTM. Não sei o por quê, mas gosto muito de observá-lo. A borboleta e a criança. Uma, símbolo da liberdade, outra, da inocência.

Vila Curuçá recebe a primeira Fábrica de Cultura de São Paulo

Foto: Márcia Alves/Secretaria da Cultura

O Governo do Estado inaugurou hoje (19) sua primeira Fábrica de Cultura, na Vila Curuçá, zona leste de São Paulo, ação inovadora na área de artes e cultura. No espaço, serão ministrados gratuitamente cursos e oficinas voltados à formação em todas as áreas das artes do espetáculo. Além disso, o edifício será um espaço de difusão cultural para toda a comunidade, sob a coordenação da Secretaria de Estado da Cultura. Ao todo, serão entregues nove prédios de 6 mil m², que já estão sendo construídos em regiões periféricas da capital: Cidade Tiradentes, Sapopemba e Itaim Paulista (zona leste); Brasilândia, Vila Nova Cachoerinha e Jaçanã (zona norte); Capão Redondo e Jardim São Luís (zona sul).

A partir do dia da inauguração, durante todo mês de março, jovens de 14 a 24 anos poderão participar de workshops com os educadores, que explicarão sobre cada curso, em aulas experimentais. Para participar, o aluno precisa apenas comparecer à recepção da Fábrica de Cultura, sem necessidade de inscrição prévia.

Já para as inscrições dos cursos oferecidos, os interessados devem comparecer à recepção da unidade ou se inscrever diretamente com o educador. Basta o aluno se informar sobre a faixa etária de cada curso.

  • O prédio

A Fábrica de Cultura da Vila Curuçá é formada por dois prédios integrados: o Teatro, que abriga todos os equipamentos necessários para a produção de grandes espetáculos, e o edifício de Múltiplo Uso, que reúne as salas de artes, biblioteca, salas multiuso, espaços administrativos e pedagógicos, refeitório e ambulatório.

Cada unidade da Fábrica de Cultura tem o custo de cerca de R$ 12,5 milhões. As unidades seguem um padrão arquitetônico e têm diversos espaços de múltiplo uso e salas específicas para as atividades práticas e teóricas de teatro, dança, música, circo, audiovisual e artes plásticas, além de biblioteca e teatro.

  • Fábricas de Cultura

O objetivo do programa é promover a participação de jovens de distritos vulneráveis da capital em atividades artísticas e culturais que contribuam para seu desenvolvimento e inserção social.

O programa Fábricas de Cultura começou em 2007, com ações artístico-culturais para crianças e jovens de 7 a 19 anos, moradores de bairros com baixos indicadores sociais. Desde então, as atividades foram realizadas em equipamentos culturais das regiões, até a conclusão dos prédios.

Cada unidade vai contar com uma biblioteca, em que, seguindo o modelo de sucesso da Biblioteca de São Paulo, a literatura será aliada da tecnologia. As bibliotecas das Fábricas terão acervo inicial de 2 mil livros e serão equipadas com computadores. Nos Ateliês de Produção serão oferecidos cursos de formação e atividades de mobilização nas áreas de teatro, dança, capoeira, circo, música em geral, literatura, artes plásticas, vídeo e fotografia. Na Vila Curuçá, o objetivo é atender 1,2 mil nos ateliês.

As fábricas ficarão abertas à comunidade aos fins de semana, com apresentação de espetáculos e com o programa Fábrica Aberta, que vai oferecer o espaço e os equipamentos para pesquisa, ensaio, produção e difusão da produção cultural local, além de encontros e seminários de profissionais da área da cultura. As Fábricas de Cultura serão equipadas com teatros, com capacidade para 300 pessoas, que terão espetáculos profissionais e também produções locais, além das apresentações criadas nas Fábricas.

Veja fotos da Fábrica de Cultura no Flickr da Secretaria da Cultura:

Lixo Extraordinário

Imagine a sensação de sentir o corpinho gélido de um bebê morto caindo sobre você. Ou então, a necessidade de dividir o seu alimento, e espaço, com ratos e urubus. O que para muitos é impensável, para os catadores de lixo do Jardim Gramacho, maior aterro sanitário da América Latina, localizado na periferia do Rio de Janeiro, é rotina. Filmado entre 2007 e 2008, o documentário Lixo Extraordinário acompanha a trajetória do artista plástico Vik Muniz neste universo, desprezível para alguns e fonte de renda para outros. Lá, ele fotografou os catadores de materiais recicláveis, com o objetivo de retratá-los. Entretanto, a convivência, lhe proporcionou a oportunidade de conhecer histórias –impressionantes, às vezes, chocantes– de pessoas cativantes e cheias de dignidade. Muniz extrai do lixo a sua arte, porém, o documentário é além de uma análise de seu trabalho. Podemos defini-lo, talvez, como uma biografia. Não de Vik, mas dos personagens que, no final, tornaram-se provas tangíveis do poder de transformação da arte. Tião, o presidente da Associação de Catadores; Zumbi, o intelectual do lixão; Suelem, a jovem mãe de 18 anos; Isis, a apaixonada por moda; Irma, a chef do aterro; Valter, o guru da reciclagem; e Magna, que sente vergonha do cheiro que exala, mas tem orgulho do que faz. São estes os verdadeiros responsáveis pelo sucesso de Lixo Extraordinário. Acredito que Vik não dimensionava a repercussão de seu trabalho. Não digo pelas participações cativas do filme em prêmios (entre eles, o Oscar) e festivais, nem pela abertura da novela das 21h da Globo que conquistou, mas sim na vida dessa gente. Esse é o tempero arrebatador da obra: o humanismo.

Direção: Lucy Walker, João Jardim, Karen Harley

País: Brasil, Reino Unido

Ano: 2010

Duração: 90 min.

Ponte para Terabítia


Jess Aarons (Josh Hutcherson) é um menino que se sente deslocado, tanto na escola quanto entre seus familiares. Durante uma corrida, que deveria ser apenas para garotos, Jess foi facilmente é vencido por Leslie Burke (AnnaSophia Robb). Logo, os dois tornam-se grandes amigos e, juntos, constroem um reino secreto (Terabítia), um mundo mágico em que só é possível chegar pendurando-se em uma velha corda, que fica sobre um riacho.  Lá, eles enfrentam criaturas imaginárias e criam histórias metaforicamente relacionadas à vida real, histórias essas que os ajudam a superar as aflições do dia-a-dia.

Direção: Gabor Csupo

País: EUA

Ano: 2007

Duração: 95 min.

 

Vicky Cristina Barcelona

O ritmo saltitante e alegre da música Barcelona, de Giulia & Los Tellarini, logo no início do filme, é análogo à forma em que Woody Allen tratará as questões do amor ao decorrer da obra. Vicky (Rebecca Hall) é centrada e estuda a cultura catalã em seu mestrado; Cristina (Scarlett Johansson) é impulsiva e ainda procura sua vocação; Barcelona, a capital catalã. Vicky, Cristina e Barcelona –trio que intitula a obra–, juntos, formam uma envolvente e divertida história. Vicky e Cristina são amigas e decidem passar as férias de verão na belíssima Barcelona. As duas possuem visões diferentes sobre o amor. Enquanto Vicky é sensata e está noiva, Cristina é intensa e movida à paixão.  Durante uma exposição de arte, elas conhecem o pintor Juan Antonio (Javier Bardem), que as convida para passar um fim de semana na cidade de Oviedo e, quem sabe, fazerem amor. O que elas não imaginam é que o galanteador mantém um conturbado relacionamento com sua ex-esposa, Maria Elena– interpretada pela lindíssima (permita-me adjetivar) Penélope Cruz –bela e louca. Tanto Vicky como Cristina, cada uma de sua maneira, se interessam pelo pintor, formando um quadrado amoroso. Vicky questiona sua visão conservadora sobre o amor e Cristina torna-se um terceiro elemento necessário, e muito bem-vindo, na relação de Juan e Elena.

Direção: Woody Allen

País: Espanha, EUA

Ano: 2008

Duração: 96 min.

Adendo: como sou um fã incondicional da beleza e, claro, do talento da Penélope Cruz, este “poste” (termo originalmente criado pela minha amiga Carol e livremente copiado por mim) presenteia os leitores com uma imagem extra da atriz.

Retalhos: Um Romance Ilustrado


Retalhos é um relato autobiográfico de Craig Thompson, no Meio Oeste americano. Ele retrata sua história, da infância até o início da vida adulta, numa cidadezinha que parece estar sempre coberta pela neve. Seu crescimento é marcado pelo temor a Deus — transmitido por sua família, seu colégio, seu pastor e as trágicas passagens bíblicas que lê —, que se interpõe contra seus desejos, como o de se expressar pelo desenho.

Ao mesmo tempo Thompson descreve a relação com o irmão mais novo, com quem ele dividiu a cama durante toda a infância. Conforme amadurecem, os irmãos se distanciam, episódio narrado com rara sensibilidade pelo autor. Com a adolescência, seus desejos se expandem e acabam tomando forma em Raina — uma garota vivaz, de alma poética e impulsiva, quase o oposto total de Thompson — com quem começa a relação que mudará a visão que ele tem da família, de Deus, do futuro e, enfim, do próprio amor.

Retalhos traz as dores e as paixões dos melhores romances de formação — mas dentro de uma linguagem gráfica própria e extremamente original. A obra conquistou de três prêmios Harvey (melhor artista, melhor graphic novel original e melhor cartunista), dois prêmios Eisner (melhor graphic novel e melhor escritor/artista), e, em 2005, o prêmio da crítica da Associação Francesa de Críticos e Jornalistas de Quadrinhos.

Autor: Craig Thompson

País: EUA

Ano: 2009

Editora: Quadrinhos na Cia.

 

Pequena Miss Sunshine

Um pai fracassado, um filho que fez voto de silêncio, um cunhado professor suicida e um avô que foi expulso da casa de repouso por usar heroína. Tais personagens fazem parte de uma família nada convencional que vive, diariamente, à beira de um ataque de nervos. Todos sobrevivem envolvidos em suas frustrações pessoais e coletivas até que a desajeitada filha caçula Olive (Abigail Breslin) é classificada para participar do concurso “A Pequena Miss Sunshine”, na Califórnia. Todos têm que deixar as diferenças de lado e se unirem para atravessar o país em uma Kombi amarela e enferrujada.

Direção: Jonathan Dayton, Valerie Faris

Ano: 2006

País: EUA

Duração: 101 min

 

Vida sobre rodas

Morguefile

Segunda-feira, 5h. É cedo, mas Victor não tem escolha. Ele trabalha no centro de São Paulo, e por morar no leste da capital, precisa madrugar para chegar ao emprego às 8h. O caminho até o trabalho é longo e estressante. A rotina, que pode parecer igual a de muitos outros trabalhadores, para ele é muito mais árdua. Victor é cadeirante. Aos 15 anos, conversava com colegas, quando policiais enquadraram a roda de amigos. Instintivamente, ele tentou pegar o documento, guardado no bolso frontal da calça. Com medo de que o garoto estivesse armado, um policial disparou. Uma falha, um tiro, diversas consequências. A bala atingiu a coluna do jovem, que perdeu os movimentos da parte inferior do corpo. O que era apenas uma conversa entre amigos de infância, se tornou em uma tragédia. Porém, com o tempo e apoio de muitos, Victor superou o acidente. Hoje, trabalha em uma “empresa importante”, como o mesmo define.

A primeira barreira, são as ruas. Despreparadas para acolher cadeirantes, as vias paulistanas são esburacadas e perigosas. As calçadas então, estão fora de questão, são desniveladas, abrigam diversos degraus e, em geral, não possuem rebaixamentos nos cruzamentos. A solução é dividir as ruas, alamedas, avenidas, vielas, e porquê não estradas, com os automóveis. Um risco. A odisseia de Victor está apenas no começo. O transporte público é outra problemática. Para chegar na “empresa importante”, Victor utiliza ônibus e metrô. No ponto, aguarda por 23 minutos –e alguns segundos eternos–, o ônibus adaptado. O cobrador desce, abaixa a rampa e o auxilia à subir no coletivo. Ajuda recebida com alívio, já que seus braços doem, devido o esforço necessário para empurrar as barras circulares anexadas às rodas da cadeira. Victor não tem condições financeiras para comprar uma cadeira motorizada, em que o único movimento necessário seria realizado pelas mãos. Voltando ao ônibus –lotado, como sempre–, o jovem ainda é obrigado a suportar olhadelas daqueles que utilizam o espaço reservado. “Licença”, diz, sorrindo. Ele se ajusta no espaço, veste-se com o cinto de segurança e aproveita o tempo para ler. Está na página 200, capítulo 32, de A Cidade do Sol, do Khaled Hosseini –aquele afegão que escreveu O Caçador de Pipas. São 30 minutos dedicados à história protagonizada por Mariam e Laila. “Com a leitura, o tempo passa mais rápido”, acredita. Na hora de descer, a ajuda é novamente bem-vinda. O ônibus para na estação, o que é bom. Porém, a rampa de acesso é o que mais lhe preocupa. O esforço físico novamente é o combustível. Transeuntes observam o suor escorrer pelo rosto do rapaz. Um homem –de boné e uniforme da Gaviões da Fiel–, provavelmente com a mesma idade de Victor, oferece sua força jovial e o empurra até a catraca. “Ufa, valeu, irmão!”, é o que consegue proferir como agradecimento. Na estação, um jovem aprendiz, aparentemente com sono, surge para ajudá-lo. “Bom dia, ‘negão'” –se tratam pelos apelidos, pois mesmo com o pequeno espaço de tempo em que convivem diariamente, já se consideram amigos. O trem estaciona na plataforma. Pelas janelas, é possível observar os usuários se contorcendo em busca de espaço. Victor tem que esperar o próximo. Enquanto isso, incentiva o jovem à entrar numa faculdade –sonho que ele deseja realizar em breve. Após cinco trens, Victor embarca, não com conforto. Fica na porta, o que atrapalha o embarque e desembarque de passageiros. Entre uma estação e outra, precisa descer do vagão, para abrir espaço. Finalmente, Victor chega na estação-destino. Outro jovem aprendiz, esse desconhecido, o auxilia até a saída. Dali para a “empresa importante”, ele gasta cinco minutinhos. No prédio, é conhecido e querido por todos. No elevador, aperta o botão 7.
Fim de tarde, e Victor se prepara para ir embora. O caminho é o mesmo, mas inverso, metrô-ônibus-rua. Entretanto, acontece um imprevisto. Poucos metros de casa, o jovem não percebe uma pedra no meio do caminho. O que poderia ser apenas uma alusão ao poema de Drummond, se transformou numa queda. Victor rala as mãos, utilizadas para se proteger do tombo. Rapidamente, pessoas o ajudam. “Obrigado, gente. Estou bem”, agradece, observando o corte em sua palma direita. Em casa, limpa o ferimento, consome o jantar preparado pela mãe, assiste uma ardente cena de Insensato Coração, protagonizada por Deborah Secco, e dorme.
O dia acabou, Victor se prepara para o amanhã, que provavelmente não será muito diferente de hoje –talvez sem a queda, mas com os mesmos obstáculos.

(Ps.: essa história é fictícia, porém não muito diferente da de Victors reais que vivem em centros urbanos brasileiros, despreparados para recebê-los)

Baixada terá ‘filiais’ do Emílio Ribas e do Instituto do Câncer

O Governo do Estado, por meio da Secretaria da Saúde, vai criar duas novas unidades de saúde na região de Santos. Com suporte de instituições de renome, serão referência para atendimentos oncológico e de doenças infecciosas para a população dos nove municípios da Baixada Santista.

As unidades fazem parte do primeiro pacote de medidas definidas pela Agência de Saúde a ser implementado na região. A Agência é um projeto piloto da Secretaria da Saúde para o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde na Baixada Santista.

O Centro de Referência do Câncer, em Santos, terá apoio científico, tecnológico e de protocolos clínicos do Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp), maior centro especializado em oncologia da América Latina. A nova unidade será implantada nas dependências do Hospital Guilherme Álvaro, que passa por ampliação e reestruturação de serviços.

O Icesp II irá oferecer atendimento integral, com serviços de radioterapia e quimioterapia, além de internação. Com tratamento disponível na região, os pacientes não precisarão mais se deslocar até São Paulo.

“O Estado oferecerá um serviço de excelência em tratamento de câncer e preocupado com a humanização do atendimento” explica o infectologista David Uip, coordenador da Agência.

No Guarujá, será criado um hospital totalmente voltado para o atendimento de doenças infecciosas e parasitárias. O Instituto de Infectologia Emílio Ribas II funcionará no antigo Hospital Ana Parteira. Com uma parceria com a Fundação Faculdade de Medicina já existente, a unidade dará privilégio à contratação de profissionais da região.

O Emílio Ribas da Baixada terá 54 leitos de infectologia. O prédio também abrigará uma segunda unidade do Instituto Adolfo Lutz, que fará exames complementares aos já disponíveis no laboratório de Santos.

“A alta incidência na região de doenças como leptospirose e dengue exige que se tenha um serviço especializado para reduzir o número de óbitos de pacientes”, afirma Uip. “O objetivo é que essas instituições virem referência também para a formação de profissionais”.

Risco de desnutrição atinge 60% dos pacientes com câncer

Uma pesquisa do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), ligado à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP, apontou que cerca de 60% dos pacientes atingidos pela doença apresentam risco nutricional. O levantamento revelou ainda que, grande parte desses pacientes já chega para tratamento com quadro de desnutrição.

As chances de um paciente oncológico apresentar problemas nutricionais são três vezes maiores do que o observado em portadores de outras doenças. Isso acontece por vários fatores, entre eles, o estágio da enfermidade e fase do tratamento, que podem causar efeitos colaterais como a diminuição do apetite e alterações no paladar.

O Icesp atende pessoas já diagnosticadas com câncer, por isso, grande parte dos pacientes admitidos chegam ao hospital em estado de desnutrição ou com risco nutricional. Nas UTI’s, esse índice alcança 78% dos pacientes. Os números são semelhantes aos da unidade de pronto atendimento, que registra 72%. Nas enfermarias cirúrgicas, observou-se uma média de 20% de pacientes em risco de desnutrição, índice menor do que os 59% apresentados nas enfermarias da Oncologia-Clínica geral.

A detecção da desnutrição no início do tratamento oncológico e ação nutricional imediata estão significativamente associadas ao aumento da expectativa de vida. Para conter e reverter esse quadro, o Instituto do Câncer acompanha o paciente durante todo o tratamento, utilizando ferramentas de triagem nutricional que identificam o risco, além de disponibilizar suplementos alimentares.

“A indicação de complementos alimentares ou de dietas administradas por sonda logo no início do tratamento reduz em cerca de 10% a taxa de mortalidade hospitalar, ou seja, quanto antes intervirmos, maior é a chance de melhorar o prognóstico do paciente. Porém, é fundamental que as pessoas tenham uma boa alimentação durante a vida para evitar problemas como esses”, explica Thais Cardenas, coordenadora do  Serviço de Nutrição e Dietética do Icesp.

Siga o Twitter do @Icesp_

O prazer nas telas do cinema

Sabe aquele provérbio, “há três coisas que não voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”? Então, talvez, ele se encaixe perfeitamente com a escolha da atriz Karen Junqueira. A bela com olhar de fera foi escalada para interpretar Bruna Surfistinha no cinema, porém, desistiu do papel. De acordo com a assessoria da atriz, ela não conseguiria cumprir o roteiro de filmagens com dedicação única e integral. Na época, Junqueira estava no ar em Poder Paralelo, novela da Rede Record. Entretanto, sua personagem, Gigi, quase não aparecia nas telas. Além do folhetim, ela já atuou em outras produções da emissora da Barra Funda, sempre com papéis irrisórios, como um dos seres inacreditáveis de Mutantes e, mais recentemente, uma cortesã no seriado bíblico Sansão e Dalila. A brecha criada pela desistência da atriz foi brilhantemente preenchida pela belíssima Deborah Secco. Sempre a vi como uma atriz coadjuvante da Globo, ideal para as personagens fúteis constantemente presentes na dramaturgia da emissora carioca. Porém, ao assistir sua atuação em Bruna Surfistinha, mudei de opinião. Deborah, sem trocadilhos, se entregou intensamente ao papel e deu vida à personagem de maneira surpreendente e atrativa.

A jovem Raquel abandonou a vida de classe média para se tornar garota de programa, por opção. Paulatinamente, com o pseudônimo de Bruna Susfistinha, cresceu na profissão (sim, profissão. E sem aspas!), ganhando destaque nacional ao expor suas experiências sexuais num blog. A história, a qual sabemos ser real, é um retrato de um mundo reinado pela exploração e, por sobrevivência de quem nele vive, pelas drogas. O sexo é apenas o produto comercializado.

O ponto em comum entre a personagem e aquela que a representa é o prazer. Enquanto Bruna distribui o prazer na cama, Deborah satisfaz os espectadores distribuindo prazer com sua talentosa atuação.

Direção: Marcus Baldini

País: Brasil

Ano: 2011

Duração: 109 min.

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