Manifestação (25/01/2010)
Rua Marigui, Jardim Romano. (07/01/2010)
ABANDONO. Essa é a palavra que traduz a situação dos moradores do Jardim Romano, bairro do extremo leste da capital paulista que está imerso em água e esgoto desde as fortes chuvas do dia 8 de dezembro de 2009.
No último domingo, dia 24 de janeiro, voluntários entregaram cestas básicas para alguns moradores da região. Com a chuva de sábado (23), a situação agravou-se. A água avançou e invadiu mais residências. Não tem como diferenciar as ruas e o rio.
No tempo em que as cesta eram entregues, juntamente com duas amigas, fui visitar a casa de Maria, que está debaixo d’água.
Levantei a barra da minha calça e entrei na água imunda, que domina as ruas. Cada passo era dado com cuidado e atenção, pois não se via o chão. Diversos eram os buracos e obstáculos que atrapalharam a nossa caminhada.
A casa de Maria foi completamente tomada pelas águas. Alguns móveis foram salvos, pois foram colocados sobre blocos e caixas, outros ficaram totalmente destruídos. Revoltada, Maria desabafa e critica a falta de assistência do poder público. “Eles (os governantes)deveriam fazer alguma coisa por nós”, diz.
A prefeitura alega que as casas estão edificadas em áreas invadidas. Entretanto, os moradores recebem anualmente o carnê do IPTU, e prédios residenciais da Caixa Econômica Federal e um Centro Educacional da prefeitura foram erguidos na rua Capachós, que virou o simbolo da desolação do bairro.
Moro no Jardim Romano há mais de 18 anos. Jamais vi nada como isso. São centenas de casas inundadas. E a situação se repete nos bairros vizinhos: Vl. Nova Itaim, Jd. Aymoré, Jd. Helena e, inclusive, nas cidades próximas, Itaquaquecetuba e Guarulhos.
Hoje, é aniversário de São Paulo, cidade que ao mesmo tempo que amo e admiro, me entristece. Como Maria, vários perderam tudo com a correnteza. Os governantes oferecem um auxílio aluguel de R$ 300 ou um pequeno apartamento num conjunto habitacional aos moradores alagados. Uma troca injusta para essas pessoas que demoraram anos para construírem um sonho, levado pelas águas em minutos.
Enquanto escrevo este texto, ouço os moradores do Jd. Fiorelo, Itaquaquecetuba, promoverem um protesto com fogo (veja a foto), para atrair a atenção das autoridades. Quem me dera que o fogo das manifestações aquecesse, ao menos um pouco, o coração gelado dos políticos brasileiros, que apenas defendem interesses partidários e pessoais, deixando o povo em segundo plano.