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Informação que direciona a ação

por Carina Eguía e Felipe Godoy para revista SP Câncer

A Fundação Oncocentro de São Paulo concentra e analisa as informações sobre a doença no estado. A partir desses dados, é possível formular políticas públicas de controle da doença e assistência do paciente com câncer.

Categórico e veemente. Assim é o médico epidemiologista José Eluf Neto, presidente da Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP) e professor de epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), ao defender o papel da entidade, e os valores agregados do estudo epidemiológico do câncer, na definição de estratégias e políticas públicas para o controle da doença.

Fundada em 1967, como Centro de Oncologia (CEON), por um grupo de professores da FMUSP, o objetivo principal da entidade era de incentivar e coordenar o estudo de atividadesem câncer. Seteanos mais tarde, a Lei Estadual nº 195 transformava o CEONem Fundação Centrode Pesquisaem Oncologia. Comisto, a entidade agrega à seus objetivos precípuos o incentivo à pesquisa, enssino e assistência, concentrando, ainda, o estímulo de atividades de prevenção e detecção precoce da doença. Hoje, a Fundação Oncocentro de São Paulo é responsável, entre outras funçãões, por gerar dados epidemiológicos do câncer referentes ao Estado de São Paulo, promover a formação de cancerologistas e o treinamento de técnicos especializados, desenvolver pesquisas e métodos de prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer.

SP Câncer – O sr. Assumiu a presidência da Fundação Oncocentro em março de 2011. Como foi receber o convite para atuar nesta respeitada instituição ?

JEN – Receber o convite para presidir a Fundação, me deixou temeroso. Até aquele momento eu não havia acumulado experiência no Sistema Público, além de ter trabalhado em um centro de saúde ligado à Faculdade de Medicina. Mas, ao considerar que a epidemiologia é uma ferramenta fundamental para o controle do câncer, e tendo consciência de que essa é a minha especialidade, entendi que eu poderia contribuir de alguma maneira para o desenvolvimento da FOSP.

O interessante é que, ao analisarmos a história da entidade, podemos notar que ela teve seu início na FMUSP, como CEON, já manifestando, desde o primeiro momento a preocupação em atuar diretamente na prevenção e detecção precoce do câncer, principalmente do câncer ginecológico e de mama. Na área da assistência, o início da entidade foi marcado pela produção de próteses buço-maxilares. A preocupação com o registro epidemiológico da doença surgiu mais tarde, mas não tenho dúvida de que este seja, atualmente, o principal papel da entidade.

SP Câncer – Entre o registro de câncer, a formação de profissionais e a assistência, como está a atuação da FOSP atualmente?

JEN – Hoje a FOSP conta com três diretorias adjuntas, a de Informação e Epidemiologia; a de Reabilitação; e a de Laboratório e Anatomia Patológica. A primeira delas é a responsável por realizar o registro estadual de câncer. A área analisa dados de todos os hospitais públicos e de alguns hospitais privados de São Paulo, gerando informações capazes de auxiliar o Governo do Estado no desenvolvimento de políticas públicas para controle da doença. Agora, queremos estabelecer uma parceria para realização de uma pesquisa que permita averiguar como está a mortalidade por câncer. Estes novos dados ajudarão a incrementar as análises, fornecendo uma visão ainda mais completa sobre a situação da doença no estado.

A segunda diretoria concentra a atividade de assistência. Acredito que o atendimento realizado ali à população é uma questão de cidadania. Quando as próteses ficam prontas, os pacientes se emocionam muito, porque isso representa a chave para que ele possa retornar ao convívio social. Justamente pelos benefícios sociais acumulados por este nicho de atuação da entidade – e por ser considerada uma das melhores instituições na produção de próteses – acredito que, a médio ou longo prazo, a área deverá se desvincular da Fundação, dando passos mais largos no desenvolvimento de suas atividades.

Por fim, a diretoria-adjunta de Laboratório e Anatomia Patológica concentra a maior parte dos 105 profissionais da Fundação. Temos o orgulho de manter o melhor centro de formação de citotécnicos do país. É preciso um ano e meio para formar um bom profissional. O setor realiza análises de papanicolau, anatomo-patológicos e imuno-histoquímicos, sendo, este último um exame sofisticado, que demanda maior expertise dos profissionais. Além disso, este exame tem sido ferramenta chave para a decisão de terapêuticas. Assim, a tendência, em termos de futuro, é diminuir, na FOSP, o volume de análises de papanicolau ou anatomo-patológicos, que podem ser feitos por máquinas, e ampliar o volume de exames imuno-histoquímicos.

SP Câncer – Como está, de maneira geral, o cenário atual do câncer no Estado de São Paulo?

JEN – Um artigo publicado pela FOSP recentemente dá conta de que a mortalidade por câncer, ajustada por idade, tem diminuído de maneira geral. Nos países desenvolvidos este é um cenário que começou a se delinear há 10 anos.

Uma das principais razões para isso é a queda de mortalidade da doença no sistema gastro-digestivo, um tipo de câncer causado, principalmente, pelas condições de vida do indivíduo. Outro tipo da doença que tem apresentado queda é a de colo de útero.

Também analisamos que o de pulmão tem começado a cair, principalmente em homens, assim como de tumores que afetam a região da cabeça e do pescoço. Isso pode estar relacionado com a redução do hábito do tabagismo e do etilismo na população. Com os avanços no tratamento, também é possível notar a queda nas mortes infantis provocadas por leucemia linfóide aguda.

SP Câncer – Se os dados de incidência têm aumentado e a mortalidade reduzido, isso significa que é possível conviver com o câncer, como doença crônica. Mas é possível conviver com a doença mantendo a qualidade de vida?

JEN – O consumo de cigarro e álcool são os principais vilões quando se discute a prevenção da doença. Além disso, é preciso estimular ainda mais a população a manter hábitos de vida saudáveis, como alimentação adequada, prática de exercícios físicos e a manutenção de cuidados gerais com a saúde.

De fato, houve um avanço muito grande no tratamento do câncer no Brasil. Hoje é perfeitamente possível conviver com a doença desfrutando de qualidade de vida, assim como portadores de inúmeras outras doenças crônicas o fazem. Nesse sentido, cabe destacar, ainda, a evolução dos cuidados paliativos no país. O que queremos, agora, é desenvolver um indicador que se torne uma ferramenta capaz de avaliar a qualidade de vida do paciente em cuidados paliativos.Esta, aliás, é uma das preocupações do Comitê de Referência em Oncologia, presidido pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e do qual a FOSP faz parte.

SP Câncer – O sr. acredita que, ao personalidades assumirem publicamente o câncer, podem estar contribuindo no sentido de disseminar informação sobre prevenção e detecção precoce?

JEN – Eu acredito que a exposição desses casos para o público pode contribuir de uma maneira positiva, sim. Em primeiro lugar, porque esta atitude ajuda a desmistificar um pouco o problema. Em segundo lugar, porque estimula a discussão sobre a doença e leva à população uma consciência maior sobre a importância da prevenção primária e da detecção precoce da doença. Além disso, eu sou otimista. O Brasil tem melhorado em vários aspectos. Um deles é a produção científica, que cresceu significativamente em termos de quantidade e qualidade. As pessoas começam a entender que câncer não é sinônimo de morte; e que é possível conviver com a doença.

Mulheres com câncer ganham ensaio fotográfico e participam de desfile de moda

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), unidade da rede pública estadual e maior centro especializado em oncologia da América latina, programou um dia especial para mulheres que passam por tratamento na unidade. Um desfile de moda, seguido por um ensaio fotográfico, pretende celebrar a vida e a força dos que lutam contra o câncer. Intitulado “Olha que coisa mais linda”, o evento acontece nesta sexta-feira, 30 de março, a partir das 11h.

As modelos, todas pacientes do Instituto, usarão cerca de 80 lenços diferentes, feitos em seda pura e doados por uma estilista. Além disso, elas terão seu look complementado por brincos, adereços e uma maquiagem especial. Para completar o dia, as pacientes serão clicadas por um fotográfo profissional. Todas elas receberão, de presente, sua melhor foto, além dos lenços utilizados durante o desfile.

Durante o tratamento contra o câncer, muitas mulheres sofrem com mudanças físicas, como a queda do cabelo, por exemplo. “Enquanto enfrentam a doença, elas também precisam aprender a redescobrir sua beleza. E é justamente essa a proposta desta ação, mostrando que a beleza feminina está presente sempre”, avalia Maria Helena da Cruz Sponton, coordenadora de Humanização do Icesp.

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo fica na avenida Dr. Arnaldo, 251 – Cerqueira César (próximo à Estação Clínicas do Metrô).

Diretor do Instituto do Câncer de SP fala sobre prevenção ao vivo no Twitter

O oncologista Paulo Hoff, diretor geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), estará nesta terça-feira, 13 de dezembro, a partir das 11h, em uma transmissão ao vivo no Twitter para tirar dúvidas dos internautas sobre a doença.
O encontro virtual pretende promover a cultura da prevenção, esclarecer dúvidas sobre o câncer, além de orientar sobre a importância do diagnóstico precoce. O médico também falará sobre novos tratamentos disponíveis e avanços da medicina no tratamento da doença.
“Estou entusiasmado em utilizar as redes sociais para falar de um assunto tão importante. Embora atue diretamente na assistência, pesquisa e ensino, o Icesp assume, como uma de suas missões, o estimulo à prevenção primária do câncer”, afirma.
Hábitos saudáveis como não fumar, não abusar de bebidas alcoólicas, praticar atividades físicas e manter uma alimentação balanceada podem ajudar a prevenir o câncer. Além disso, ressalta o diretor do Icesp, o diagnóstico precoce é fundamental para aumentar as chances de cura da doença.
Para assistir, basta acompanhar o perfil do Instituto no Twitter@Icesp_ . A transmissão poderá ser acompanhada através da hashtag #Icesp_previne.

  • Icesp no Twitter

Desde fevereiro deste ano o Icesp está presente no Twitter. Diariamente, são postadas dicas de prevenção, serviços e novidades sobre o Instituto. As conferências via Twitcam começaram em setembro, tendo como foco o câncer, de maneira geral. Já foram realizadas entrevistas sobre câncer de próstata, de mama e nutrição, entre outras. Depois de encerradas as vídeo-conferências, o conteúdo é disponibilizado no canal do Instituto no Youtube (InstitutodoCancer).

  • Twitcam sobre câncer e prevenção

Data: terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Horário: 11h
Acesso: http://twitcam.livestream.com/7iwon

Prevenção na sala de aula

As secretarias de Estado da Saúde e da Educação, em parceria com o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), lançaram um programa inédito de prevenção do câncer nas escolas da rede estadual.

Batizado de “Educar é prevenir”, o projeto pretende levar a 1,5 milhão de alunos a importância do cuidado com a saúde para evitar diversos tipos de câncer. O alerta também marca o Dia Nacional de Combate ao Câncer, comemorado em 27 de novembro.

No dia 24 de novembro, o Icesp deslocou, simultaneamente, 80 médicos em 80 escolas estaduais da capital, promovendo uma série de palestras para os alunos do Ensino Médio.

Com esta ação, cerca de 24 mil estudantes receberam, em um único dia, orientações sobre a doença, importância da prevenção, além de uma cartilha informativa e um vídeo gravado com os próprios médicos do Instituto.

No início do próximo ano, o programa “Educar é Prevenir”, atingirá todos os diretores das escolas do Estado. O Icesp irá promover uma série de videoconferências com esses profissionais, fornecendo treinamento sobre a prevenção do câncer. O objetivo é que esse conteúdo seja inserido pelos próprios professores durante as aulas. Com isso, a informação será cada vez mais disseminada entre os jovens, alertando sobre a importância da prevenção durante a adolescência.

  • Prevenção

A prevenção é a principal arma contra o câncer. Hábitos como o tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, sedentarismo, alimentação inadequada e prática de sexo sem proteção, entre outros, são fatores que estão diretamente ligados ao desenvolvimento de diversos tipos de tumores. Evitar esses hábitos e manter uma vida saudável pode ajudar a prevenir a doença.

Confira todo o material no link.

Um leque de opções

por Carolina Gentile e Felipe Godoy 

Sem dispensar intervenções cirúrgicas, a oncologia conta com um arsenal de novas possibilidades no tratamento.

A mesa de cirurgia costuma provocar medo em muitos pacientes. Herdamos do passado, quando os procedimentos eram mais arriscados e dolorosos, a aversão por operações, sustentando mitos que acompanharam gerações. Mesmo nos dias atuais, em que homens e mulheres se submetem a procedimentos puramente estéticos com frequência, ouvir de um médico a indicação para uma cirurgia pode soar como prognostico negativo. Considerando os avanços da medicina, em especial na oncologia, não há justificativas para o temor. Hoje, progressos tecnológicos e a ampliação de conhecimento fizeram das cirurgias artifícios seguros – mas sem exclusão de riscos – e ainda um dos pilares para o tratamento do câncer. Entretanto, já existem técnicas que podem substituir ou complementar o tratamento cirúrgico convencional, que exige, muitas vezes, um longo período de recuperação.

Imagine se, poucas horas após passar por um procedimento curativo, você estivesse em casa, junto com os familiares e amigos. “A cirurgia é um procedimento mais agressivo que outras técnicas. A tendência é buscar métodos menos invasivos na tentativa de controlar a doença, preservando a qualidade de vida do paciente”, explica o coordenador do Serviço de Radiologia e Intervenção Guiada por Imagem do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Marcos Menezes.

Não é o fim dos centros cirúrgicos. O que os avanços das últimas décadas trouxeram foi, na verdade, um leque maior de opções no combate ao câncer. Uma das consequências é a chance de tratamentos que aliam métodos diversos. Se anos antes a operação era a única opção, agora o quadro pode ser outro. Nas intervenções guiadas por imagem estão algumas destas alternativas. Elas permitem a diminuição do tempo de internação; a aplicação de anestesia local, ao invés da geral; e o retorno, pelo paciente, às suas atividades do dia a dia rapidamente. Tudo isso sem perder os benefícios terapêuticos oferecidos pela cirurgia convencional.

O aposentado Abílio Pinto, 59 anos, foi diagnosticado com câncer no fígado enquanto se preparava para um transplante. Como o órgão já estava debilitado por causa de uma cirrose hepática, que inviabilizava uma cirurgia convencional, a equipe médica optou pela radioablação. O procedimento consiste na introdução de uma agulha, que penetra precisamente  no interior do  tumor. Uma corrente elétrica alternada de alta frequência produz um calor superior a 60°C, capaz de destruir totalmente as células cancerígenas, sem atingir os tecidos locais saudáveis.

O procedimento de Abilio durou pouco mais de uma hora e não houve a necessidade de complementar o tratamento com radio ou quimioterapia. “O médico me explicou as vantagens desse método, que pelo o que sei é algo recente e inovador. Aceitei, mas não imaginei que a recuperação seria tão rápida”, comemora o aposentado, que já não encontra mais as marcas da perfuração e aguarda o transplante.

Outro método, eficaz em diversos casos de câncer – e semelhante ao que Abílio se submeteu –, é a crioterapia. A diferença está na temperatura. Este procedimento congela o tumor, destruindo-o. “O uso de métodos de imagem para guiar intervenções médicas tem ampliado as possibilidades no tratamento do câncer. A ablação percutânea, por exemplo, promove a destruição de tumores por meio de aplicações de diferentes tipos de energia”, observa Menezes. Indicada para alguns tumores no fígado, rins, pulmões e ossos, a alternativa atua de forma integrada com modalidades convencionais, como a cirurgia, a radio e a quimioterapia. Os procedimentos destroem totalmente cerca de 90% dos nódulos com até três centímetros.

Analisando a saúde de cada um, a equipe pode, em conjunto com o paciente, escolher o caminho a seguir, seja em busca da cura ou da promoção da qualidade de vida. Há outras tecnologias sendo estudadas ainda  em caráter experimental como é o caso da eletroporação irreversível, da radioembolização e do micro-ondas. (veja mais informações sobre estas e outras técnicas no quadro ao lado).

Segundo Maria Del Pilar Esteves Diz, coordenadora da Oncologia Clínica do Icesp, as várias opções extras, além da cirurgia, podem funcionar como artifícios no planejamento de estratégias terapêuticas. “Há casos em que conseguimos substituir completamente a cirurgia, em outros, a grande vantagem é, com métodos complementares, torná-la viável e mais segura”.

A radioterapia, aliada, por vezes, à quimioterapia, substitui a cirurgia convencional em casos específicos. Para alguns casos de tumores no colo de útero, por exemplo, obtêm-se os mesmos resultados do ponto de vista de chance de cura e sobrevida se comparada à operação. A associação destas duas técnicas pode substituir, muitas vezes, também o procedimento cirúrgico em alguns tipos de câncer na região da cabeça e pescoço. Assim como os outros métodos, pioneiros e em constante estudo, a união da radio e da quimioterapia consegue exercer o papel de preservar o paciente de uma intervenção cirúrgica ou diminuir seu impacto.

O conhecimento na área da oncologia avança e, com ela, a possibilidade dos pacientes receberem um melhor tratamento, seja no centro cirúrgico ou longe de suas portas. O importante é viver cada vez mais e com qualidade.

Clique no quadro para melhor visualizá-lo.

Gente que faz a diferença

por Carina Eguía e Felipe Godoy

Revista SP Câncer – Ano 2 | nº 8 | outubro de 2011

 

Referência no Brasil e fora dele quando o assunto é uro-oncologia, Miguel Srougi avalia os avanços e os tabus da especialidade.

Humildade e sensibilidade. Estas são, sem dúvida, características marcantes do médico urologista Miguel Srougi, evidentes mesmo para quem o encontra pela primeira vez. Casado e pai de dois filhos – um deles segue os passos do pai – Srougi é hoje um dos principais nomes da uro-oncologia nacional. Mesmo assim, afirma não se achar “tomado por todos esses predicados e qualidades”. Segundo ele, um único indivíduo não realiza grandes coisas sozinho; a diferença se faz a partir do trabalho de grupos de pessoas de grande valor.

Com mais de 35 anos de carreira, banhados por muita dedicação e foco, formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), pós-graduou-se pela escola de medicina de Harvard e escreveu diversos livros. Dos tios, também médicos, vieram os exemplos para seguir a carreira. Mais tarde, “deixou-se impregnar” pelo talento de outros importantes profissionais, nomes como Ruben Gittes, Ernesto Lima Gonçalves, Marcel Machado, Antonino dos Santos Rocha, Ruy Bevilacqua e Eugênio Ferreira.

Entre a família, o trabalho e a busca pela felicidade – que diz encontrar quando consegue fazer o bem pelos pacientes ou pelas instituições em que atua – divide seu tempo, com uma calma notória, mesmo em meio ao turbilhão de atividades que fazem a vida correr “nos limites da decência”.

Das muitas lembranças que carrega, destaca o fato de ter vivido fora do país. Em sua opinião, todos os estudantes deveriam passar por esta experiência. “Isso molda o indivíduo, transformando-o em um ser mais rico. Além disso, bons médicos devem conseguir estabelecer relações humanas profundas, compreender bem a sociedade, a natureza e a psicologia humanas. Também é preciso ter como características inatas compaixão, altruísmo e espírito de doação”.

Para Srougi, a medicina proporciona àqueles que a exercem alguns momentos inebriantes, marcados pelos instantes em que se salva uma vida, reconforta o sofrimento e a dor de uma pessoa, ou quando se consegue influenciar positivamente as novas gerações. “Com esses dois tipos de estímulo, sou feliz e me sinto completo”. Em entrevista à SP Câncer, o médico avalia o desenvolvimento da urologia nos últimos 40 anos, fala sobre novas tecnologias e sobre o preconceito masculino no cuidado com a saúde.

SP Câncer – O sr. definiu a prática da urologia, na década de 1970, como sendo tradicional. Hoje, como o Brasil é visto no exterior com relação a esta especialidade?

MS – Atualmente, o Brasil é visto de forma bastante qualificada. Acredito que o principal motivo para esta reviravolta tenha sido o grande movimento de criação de programas de pós- graduação, o que ajudou, também, a incrementar a pesquisa. Isto porque estes programas – e seus graduandos – necessitam produzir trabalhos de acordo com todos os princípios mais consistentes de pesquisa. Hoje, a pós-graduação da urologia da FMUSP tem as melhores notas do país na Coordenação de Aperfeiçoamento Profissional de Nível Superior (Capes). Isto gera outro movimento importante: de maneira geral, a especialidade publica muitos artigos fora do Brasil. Para se ter uma ideia, a International Brasilian Journal of Urology é a quinta revista mais lida do mundo. Estes fatores, somados à atuação internacional de profissionais brasileiros, projetou positivamente a área.

SP Câncer – Como está a produção de conhecimento sobre o assunto? Qual o papel do Icesp neste sentido?

MS – A produção de conhecimento é intensa. O Icesp e o Hospital das Clínicas (HC) têm um papel que está se tornando insubstituível. Os dois hospitais estão recheados de profissionais de grande valor pessoal e técnico. Esse é o fator mais importante para que se coloque uma instituição em pujança. O ICESP teve o privilégio de ter sido comandado por um grupo – e eu até cito nominalmente Giovanni Guido Cerri (atual Secretário de Estado da Saúde), Paulo Hoff, diretor-geral do Instituto, e Marcos Fumio Koyama (atual superintendente do HC) – constituindo uma trinca que transformou um bloco de concreto no maior hospital público do Brasil, unindo, além de competência, importantes princípios pessoais imprimidos na instituição. O HC, por sua vez, é incomparável a qualquer outro hospital em temos assistenciais. Aqui são feitas 1,5 milhões de consultas e 600 mil cirurgias de médio e grande porte, anualmente. Fora isso, as duas instituições tem um papel no ensino médico brasileiro de grande destaque, concentrando um arcabouço de formação na saúde na América Latina. Aqui se desenha a medicina do futuro, formando as pessoas que, provavelmente, liderarão a área nos próximos 20 ou 30 anos.

SP Câncer – Quais os principais desafios da urologia no país, atualmente?

MS – A cadeira tem tido bons líderes, que estão adaptaram às inovações tecnológicas. Isso faz com que ela continue se desenvolvendo. Uma especialidade médica, para prosperar, tem que ter, além de uma estrutura consistente, uma área de atuação abrangente. A urologia tem essa característica. Mas, apesar de o trato urinário ser um sistema pequeno, as patologias urológicas são comuns e incluem problemas de alta prevalência na população, atingindo de crianças à idosos.

SP Câncer – Quais foram as principais descobertas da última década? O que isto representa para a população?

MS – Ao contrário do mito e do anseio popular, a medicina evolui lentamente. A verdade é que as pessoas não estão vivendo mais graças aos grandes avanços tecnológicos da medicina. A grosso modo, a expectativa de vida da população aumentou graças à realização de obras de infra-estrutura. Embora isso possa parecer meio grosseiro, o que tem ampliado a sobrevida dos indivíduos é o acesso ao sistema de tratamento de água e esgoto, atendimento à saúde infantil, cuidados com a maternidade e com a alimentação, vacinação em massa, uso de antibióticos e anestesias. Mas estas são questões do século passado. Não há uma grande revolução na medicina, atualmente. Não são as novas medicações, ou equipamentos ultramodernos que modificarão significativamente a vida da população.

SP Câncer – Quando falamos de tumores urológicos, como está o mapa epidemiológico do país?

MS – O câncer urológico não tem um retrato regional bem definido. O câncer mais comum é o de próstata. Mas, no Brasil, apesar dos esforços do Instituto Nacional do Câncer (INCA), ele é sub-avaliado. Não existe um registro confiável de incidência. O câncer de bexiga, ligado ao consumo de cigarro, aumentou muito em mulheres, devido ao crescimento do consumo do tabaco pela população feminina, desde o fim do século passado. O de pênis é o único que tem uma distribuição regional clara, sendo mais comum nas regiões pobres. Este tipo de tumor está associado à má higiene do local e sua incidência no nordeste é 20 vezes maior que a verificada no sudeste.

SP Câncer – Temos acompanhado um grande progresso tecnológico da área médica, consolidando um verdadeiro arsenal que pode ser empregado do diagnóstico ao tratamento de diversas doenças, incluindo o câncer. Especificamente na área da uro-oncologia, que novos benefícios estão à disposição dos pacientes?

MS – Acho que procedimentos como a vacina para o câncer de rim ou técnicas de cirurgia minimamente invasivas têm uma ação pontual. Com esses novos aparelhos, podemos tratar alguns pacientes com câncer de próstata ou de rim, por exemplo, mas isso não muda a sobrevida e não amplia suas chances de cura. Obviamente, esses tratamentos permitem uma ação menos agressiva, sem cortes e com um tempo de internação menor. Em contrapartida, são mais onerosos. Acredito que essas novas tecnologias têm recebido um excesso de atenção, por prometerem melhorar índices de impotência e incontinência, por exemplo. Mas os dois melhores trabalhos científicos sobre o assunto não mostraram diferenças significativas: o primeiro disse que os resultados nestes quesitos eram piores que os da cirurgia convencional; e o segundo indica uma melhora, apontando que a diferença, na verdade, está no cirurgião e não na técnica utilizada. No caso das vacinas, é fato que elas têm melhorado a perspectiva para os pacientes com câncer de rim. Mas não fazem a doença regredir, ou seja, não são curativas. Sendo assim, tem uma ação limitada, auxiliando a ampliar a expectativa de vida destes doentes, ainda que a um custo bastante elevado e sem reflexos à qualidade de vida. Será que vale a pena?

SP Câncer – No conhecimento geral da população, o HPV está muito ligado ao desenvolvimento de tumores ginecológicos. Ele pode afetar a saúde do homem?

MS – O Papiloma Vírus Humano (HPV), aparentemente, causa câncer de pênis. Cerca de 30% a 40% dos homens com este tipo de tumor também são portadores do vírus. Infelizmente, a vacinação em massa, ainda é uma realidade distante. Sendo assim, o uso de preservativos em todas as relações sexuais é fator de grande importância na prevenção deste tipo de tumor.

SP Câncer – A partir de quando o homem precisa se preocupar em realizar exames periódicos?

MS – O câncer do homem que justifica a realização de exames regulares é o de próstata, que deve se iniciar aos 45 anos. No caso de pessoas com histórico familiar da doença (pai ou irmão), a idade indicada para início da realização dos exames cai para 40.

SP Câncer – Antigamente a indicação para início do rastreamento para o câncer de próstata era a partir dos 50 anos. Há um motivo para a doença estar atingindo populações mais jovens?

MS – Não se sabe. Há três motivos que provocaram o aumento da incidência do câncer de próstata. O primeiro é o crescimento da expectativa de vida. Depois, é preciso considerar a descoberta do PSA (antígeno prostático específico), uma proteína que se altera quando a doença está instalada, permitindo a detecção do câncer em pacientes que não apresentam alteração do volume do órgão. E o terceiro é, provavelmente, um motivo ambiental. Os japoneses, por exemplo, apresentam baixa incidência de câncer de próstata. Mas, quando um indivíduo sai do Japão para morar nos Estados Unidos, mudando os hábitos alimentares e o estilo de vida, tem o risco ao desenvolvimento do problema igualado ao apresentado pela população norte-americana. Isso faz com que creditemos o aumento do risco à fatores ambientais.

SP Câncer – Considerando os preconceitos e a resistência da população masculina em cuidar da própria saúde, é mais difícil estabelecer uma relação médico-paciente saudável e proveitosa?

MS – Existe um processo darwiniano. Segundo a teoria evolucionista, só sobrevivem os animais mais fortes; os mais fracos desaparecem. O homem, não quer se mostrar fraco, doente ou frágil, para manter seu papel e respeito social. Isso pode parecer muito teórico, mas é real. Vejo isso no meu dia-a-dia: os pacientes, em especial as figuras públicas, sofrem mais por saber que sua doença será exposta aos grupos a que pertencem do que por estar com câncer. Existe, sim, o problema do preconceito com relação ao toque e à possibilidade de que o exame provoque dor, embora esse não seja um sentimento unânime. Essa postura prejudica uma ação rápida diante de um diagnóstico precoce. Há, entretanto, muitos homens que se cuidam, de maneira geral, fazendo exames preventivos periodicamente. Essas pessoas se beneficiam, realmente, do que a medicina pode oferecer.

1 a cada 4 pacientes com câncer de testículo usa maconha

Um levantamento realizado pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), ligado à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP, aponta que 25% dos pacientes com câncer de testículo atendidos no setor de urologia da unidade assumem o consumo regular de maconha.

O uso da droga está associado ao surgimento do câncer de testículo, provocando diversos efeitos adversos sobre os sistemas endocrinológico e reprodutivo.

Mensalmente, 500 pacientes são atendidos na clínica de uro-oncologia do Icesp. Destes, 30% apresentam tumores localizados no testículo, dos quais 70%  têm sinais de doença avançada (fora do testículo) no momento do diagnóstico.

As cirurgias para retirada total ou parcial dos testículos e da próstata representam um terço das 10 mil cirurgias já realizadas pelo hospital.

“Evitar o uso da droga é fundamental para diminuir consideravelmente as chances de desenvolvimento do tumor. Além disso, é fundamental que os homens realizem o autoexame para o diagnóstico precoce da doença”, alerta Daniel Abe, urologista do Icesp.

  • Cura

O câncer de testículo é altamente curável, principalmente quando detectado precocemente. A doença acomete predominantemente homens que têm entre 15 e 34 anos de idade. O diagnóstico precoce pode ser feito por meio do autoexame do órgão. Percebendo qualquer anormalidade, como nódulo indolor ou massa, sensação de peso no escroto ou dor na região inferior abdominal, deve-se procurar ajuda médica.

Instituto do Câncer lança programa de prevenção no Twitter

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), ligado à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP, está lançando uma ação de prevenção com foco no uso das redes sociais. A partir do dia 14 de setembro, quinzenalmente, irá realizar “mini-conferências” entre profissionais da instituição e os internautas, via Twitcam. O objetivo é disseminar importantes temas relacionados aos principais tipos de câncer, diagnóstico precoce e qualidade de vida.

A primeira entrevista acontecerá com a coordenadora da Oncologia Clínica do Icesp, Maria Del Pilar Estevez Diz. A médica estará à disposição dos internautas para esclarecer dúvidas sobre a doença, novos tratamentos disponíveis e avanços da medicina no tratamento contra o câncer

Para assistir, basta acompanhar o perfil do Instituto no Twitter @Icesp_ (http://twitter.com/Icesp_). A transmissão poderá ser vista através da hashtag #Icesp_previne.

O cronograma inicial das atividades também prevê a participação de especialistas para abordar aspectos dos principais tipos de câncer, como mama, próstata, pulmão, estômago, colo de útero e intestino, além da importância da prática de exercícios e da nutrição na prevenção e durante o tratamento oncológico.

“O objetivo da ação é disseminar a informação de maneira simples e oferecer um canal para que a população possa esclarecer suas dúvidas com relação aos temas abordados. E a informação é o primeiro passo para a manutenção da saúde”, afirma o diretor geral do Icesp, Paulo Hoff.

  • Twitcam sobre câncer e prevenção

Data: Quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Horário: 13h30

Convidada: Dra. Maria Del Pilar Estevez

Acesso: http://twitcam.livestream.com/6fg6h

SP tem exposição sobre ‘propagandas enganosas’ de cigarros

“Propagandas de cigarro – como a indústria do fumo enganou as pessoas”. Este será o tema de uma exposição que o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, ligado à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP, recebe a partir da próxima segunda-feira, 29 de agosto, Dia Nacional de Combate ao Fumo.
A mostra, que reúne propagandas veiculadas nos Estados Unidos entre as décadas de 1920 e 1950, quando não havia controle sobre a publicidade do produto, apresenta campanhas em que médicos, crianças e até o Papai Noel “vendiam” cigarros. O objetivo é explicitar como a indústria do tabaco manipulou informações, utilizando falsas verdades para camuflar o fato de que seus produtos provocam graves problemas de saúde, como enfisema pulmonar e câncer.
Organizada originalmente por médicos da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, a exposição foi aberta em 2007 e exibida em São Francisco, Boston, Nova York, Filadélfia e Nova Orleans. A coleção original faz parte da Smithsonian Institution de Washington.
Para facilitar a visitação das 90 peças expostas no Icesp, a exposição está dividida conforme a temática das propagandas. “Crianças e temas familiares na propaganda de cigarro”, “Ídolos do cinema e do esporte fizeram do cigarro um símbolo de status e saúde” e “Pesquisas pseudocientíficas e profissionais da saúde aprovam o cigarro” são algumas das vertentes abordadas.
A mostra é gratuita, aberta ao público e ficará exposta no hall de entrada do Icesp até o dia 14 de outubro. O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo fica na Av. Dr. Arnaldo, 251 – Cerqueira César – próximo ao metrô Clínicas.

  • Incidência

Dados do Icesp mostram que 60% dos fumantes diagnosticados com câncer não conseguem largar o cigarro, mesmo após descobrirem a doença. Além disso, de todos os atendimentos realizados no Icesp, 35% dos pacientes, ou um em cada três, afirmam ser tabagistas no momento em que ingressam na unidade para realizar o tratamento.
O tabagismo é um sério problema de saúde pública no mundo. O hábito desencadeia diversas doenças cardiovasculares e respiratórias, além de ser um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de diversos tipos de câncer.
“O consumo de produtos derivados do tabaco é responsável por 30% das mortes de pacientes oncológicos. Essa realidade precisa mudar – e as mudanças só acontecem por meio da conscientização, exatamente o que propõe esta exposição”, avalia o diretor geral do Instituto, Paulo Hoff.

Pioneiro no SUS, grávidas contam com ambulatório especial para tratamento de câncer

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira, ligado à Secretaria da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP, oferece um tratamento especial para as gestantes com câncer. Apesar de ser raro, a doença também se manifesta nesse grupo, principalmente nas mamas. Para que essas pacientes recebam o cuidado necessário diante desses casos, o Icesp criou o Ambulatório Clínico de Câncer de Mama na Gestação. A unidade, que funciona no próprio Instituto, recebe, em média, uma paciente por mês, número alto se considerarmos a raridade do problema.

Uma das principais causas para o desenvolvimento da doença nesse período é a gravidez tardia. A maior parte dos atendimentos do ambulatório são em pacientes na faixa dos 35 anos. Além disso, os fatores genéticos, obesidade e tabagismo, entre outros aceleram o surgimento da doença nessa fase.

Para tratar essas gestantes, a unidade oferece um acompanhamento minucioso, com exames rotineiros e um atendimento especial para as mulheres. Para que o bebê não tenha nenhum tipo de seqüela, o tratamento também é diferenciado. A quimioterapia, utilizada para tratar os tumores, só pode ser aplicada após a 12º semana de gestação e deve ser interrompida cerca de três semanas antes da data prevista do parto. Nesse período, o acompanhamento deve ser intenso, tanto para a saúde da mãe e do bebê quanto para o controle do tumor.

Alguns tipos de procedimentos, comuns em pacientes com câncer, são contra-indicados em grávidas. A radioterapia, por exemplo, é evitada devido a disseminação da radiação, que pode causar danos ao feto, assim como o tratamento hormonal, que é utilizado em 70% dos casos de tumor mamário. Logo após o nascimento do bebê, estes tratamentos podem ser aplicados. O único efeito resultante deste processo será a cessação da amamentação.

“É possível ter uma gestação saudável mesmo com o câncer, porém uma série de cuidados devem estar presentes durante toda a gravidez. O mais importante é que as mulheres se atentem aos fatores de riscos para o câncer de mama. Só assim é possível evitar problemas futuros com a mãe e com o bebê”, explica o responsável pelo Ambulatório Clínico de Câncer de Mama na Gestação do Icesp, Max Mano.

Mitos prejudicam detecção precoce de câncer em homens

De todos os tumores malignos que atingem o homem, 23% são urológicos, especialidade que inclui os cuidados com o rim, bexiga, próstata, uretra e pênis. E nos órgãos presentes tanto nos homens quanto nas mulheres, a população do sexo masculino apresenta uma incidência de duas a três vezes maior de câncer, quando comparado com o público feminino. E um dos principais fatores que contribui para este quadro é a desinformação.

Um levantamento realizado pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), ligado à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP, apontou os principais questionamentos e mitos populares entre os homens sobre a incidência e o diagnóstico destas doenças. E o resultado apontou que a desinformação realmente existe entre a população masculina.

Perguntas como “segurar a urina dá câncer?”, “jovens não fazem parte do grupo de risco para câncer?”, “o ato de fumar não está relacionado ao desenvolvimento de câncer, com exceção do de pulmão”, são exemplos de questionamentos comuns entre os homens.

De acordo com o urologista do Icesp, Marcos Dall’Oglio, é fundamental desmistificar alguns desses questionamentos. “O paciente precisa saber quais são os fatores e os comportamentos de risco para o desenvolvimento de cânceres urológicos. Somente a boa informação ajudará a reduzir o número de pacientes que chegam tardiamente ao consultório em busca de tratamento”, alerta.

Veja abaixo alguns mitos populares quando o assunto é o câncer urológico:

  • Masturbação pode causar câncer. | Não há relação entre esta prática e o desenvolvimento de tumores urológicos.
  • Segurar a urina dá câncer. | Não há qualquer estudo científico que associe o fato de segurar a urina com o desenvolvimento de câncer ou com a instalação de qualquer outra doença.
  • Toda cirurgia para tratamento de câncer de próstata provoca impotência. | Não. Um dos tipos de cirurgias, que prevê a retirada total da próstata (prostatectomia radical) pode provocar a impotência. O risco de que isso aconteça é de 30% e depende muito de fatores como idade, função sexual pré-operatória e gravidade do tumor. Além disso, vale ressaltar que o crescimento benigno da próstata não provoca impotência.
  • Não há relação entre o ato de fumar e o desenvolvimento de tumores urológicos. | Há sim: 70% dos casos de câncer de bexiga ocorrem em pacientes fumantes
  • Falta de higiene não está relacionada ao câncer. | A maioria dos tumores no pênis surge em decorrência da falta de higiene no órgão genital.
  • Homens jovens não estão sujeitos ao desenvolvimento de câncer. | A maioria dos tumores é mais rara no público jovem, mas o câncer de testículo acomete principalmente os indivíduos que têm entre 15 e 35 anos.
  • Só devo me preocupar depois que surgirem sintomas. | A maioria dos tumores cresce de maneira silenciosa. Por isso, o cuidado rotineiro com a saúde é muito importante. Metade dos casos de câncer de rim em tratamento no ICESP foi detectada incidentalmente, durante a realização de exames de rotina e quando não apresentavam qualquer sintoma.

 

25% dos operados com câncer tem menos de 50 anos

Uma pesquisa realizada pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), ligado à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP, apontou que 25% dos pacientes oncológicos operados na unidade têm menos de 50 anos. O estudo mostra ainda que, do total de cirurgias oncológicas, a maioria são em mulheres, somando 51,5%. Na análise exclusiva dos que tem até 49 anos, o público feminino também é maioria, representando 64% dos casos.

De acordo com o levantamento, a principal especialidade cirúrgica utilizada é a urologia, responsável por 28% de todos os procedimentos realizados. Em seguida, estão as especialidades de cabeça e pescoço (11%), aparelho digestivo (8,5%), ginecologia (8,5%), mastologia (7%), toráxica (5%) e ortopédica (2%). Além disso, cirurgias plásticas reparadoras são responsáveis por 8% dos procedimentos cirúrgicos.

O estudo mostra ainda que 30% dos pacientes submetidos a uma cirurgia de câncer têm mais de 70 anos; 27% têm entre 60 e 69 anos; e 24% tem entre 50 e 59 anos. Considerados jovens, os pacientes com menos de 50 anos somam 25% de todos os operados. A maior parte deles está concentrada na faixa etária de 40 a 49 anos (14%), seguida por aqueles que têm entre 30 e 39 anos (6%). Pacientes com idade entre 20 e 29 anos correspondem a 4% dos que foram submetidos à cirurgia e os que têm até 19 anos representam 2% dos operados.

“Esse levantamento mostra claramente que a idéia de que o câncer afeta somente os pacientes mais velhos está errada. É um número expressivo e por isso é sempre muito importante que as pessoas, independente da idade, façam os exames de rotina regularmente e procurem o médico de sua confiança sempre que notarem alguma anormalidade com a saúde”, alerta o oncologista e diretor Geral do Icesp, Paulo Hoff.

Inverno é pior para pacientes com câncer, diz Icesp

Alguns efeitos colaterais do tratamento oncológico já são popularmente conhecidos. À quimioterapia, por exemplo, estão associados os enjôos e vômitos. Porém, as temperaturas mais baixas de inverno também exigem do paciente maior atenção e alguns cuidados especiais.

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), ligado à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP, preparou algumas dicas para ajudar a entender e evitar esses desconfortos para quem passa por tratamento oncológico.

Alguns tipos de quimioterápicos aumentam a sensibilidade ao frio, exigindo cuidado especial do paciente durante o inverno. Como consequência, pode-se sentir uma sensação de formigamento ou de choque, principalmente nas extremidades corporais (mãos e pés).

Adotar alguns cuidados simples pode ajudar a passar melhor pelo inverno, como agasalhar-se bem, usar luvas e meias para manter as mãos e pés aquecidos, usar tocas ou gorros de lã, principalmente se a quimioterapia provocou queda de cabelo,  ampliar o consumo de bebidas quentes, como os chás, evitar a ingestão de líquidos gelados e reduzir o contato com objetos frios. Essas medidas ajudam a minimizar o desconforto.

“O mais importante é saber que essas alterações são comuns e reversíveis. Assim que o tratamento termina, os pacientes recuperam a sensibilidade”, diz Maria Pilar, coordenadora da Oncologia Clínica do Icesp.

Dez passos para evitar o câncer

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), ligado à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP, elaborou algumas dicas importantes que podem auxiliar a prevenir o surgimento da doença (veja abaixo).

Atitudes simples de serem incorporadas ao dia-a-dia são fundamentais para prevenir o câncer, que atualmente é a segunda maior causa de morte entre a população.

O primeiro, e uma das principais recomendações, é não fumar. O tabagismo é responsável por 30% das mortes de pacientes oncológicos e um ponto desencadeante de diversas outras doenças. Outro fator importante é não consumir bebidas alcoólicas em excesso, pois o álcool potencializa significativamente os efeitos do tabaco.

“Evitar o tabagismo e a ingestão de bebidas alcoólicas já vai ajudar, e muito, na manutenção da saúde das pessoas, já que ambos estão associados ao aparecimento de inúmeros tipos de tumores”, diz Gilberto de Castro Jr., oncologista do Icesp.

  • Confira os 10 principais passos para prevenir o câncer:
  1. Não fume. Mesmo uma pequena quantidade de tabaco pode fazer um grande estrago.
  2. Não abuse de bebidas alcoólicas, principalmente se estiver violando a regra número um.
  3. Mantenha hábitos de sexo seguro. Use camisinha. O contato com alguns vírus transmitidos por via sexual, como o papiloma vírus humano e o HIV podem desencadear no surgimento de alguns tipos de câncer.
  4. O sexo seguro é caminho, ainda, para evitar os vírus da hepatite B (para a qual há vacina) e da hepatite C, ambos com potencial para levar ao câncer de fígado.
  5. Evite o consumo excessivo de açúcares, de gorduras, de carne vermelha, de porco e das processadas. Invista em uma dieta saudável, rica em verduras, legumes e frutas.
  6. Na mesma linha da dieta saudável, vale reforçar a importância de evitar o consumo de alimentos com muito sódio e conservantes, como é o caso dos enlatados, embutidos e fast foods em geral.
  7. Cuidado com o sol. Use filtro solar diariamente e evite a exposição entre 10h e 16h. Na praia ou na piscina, lance mão, também, de barreiras físicas, como chapéu, camiseta e guarda-sol.
  8. Pratique atividades físicas todos os dias. Recomendação de que o exercício tenha duração mínima de 30 minutos.
  9. Mantenha-se atento à sua saúde. Procure assistência especializada caso note qualquer anormalidade em seu corpo.
  10. Faça um check-up anual e realize todos os exames de diagnóstico precoce (screening) indicados pelo seu médico. Esta também é uma atitude fundamental.

Pacientes escolhem Instituto do Câncer como melhor hospital público de SP

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) “Octavio Frias de Oliveira”, unidade ligada à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP, é o melhor hospital público do Estado. É o que aponta a mais nova Pesquisa de Satisfação dos Usuários do SUS (Sistema Único de Saúde), promovida pela Secretaria de Estado da Saúde.

Responderam à pesquisa 204,4 mil pacientes atendidos entre julho e dezembro de 2010 em 630 hospitais e centros de saúde de todo o Estado. O objetivo do projeto é monitorar a qualidade de atendimento e a satisfação do usuário, reconhecer os bons prestadores, identificar possíveis irregularidades e ampliar a capacidade de gestão eficiente da saúde pública.

Os usuários receberam formulários e puderam encaminhar suas respostas por meio de carta, internet e telefone, avaliando quesitos como a satisfação com o atendimento prestado por médicos e outros profissionais, qualidade das instalações onde o paciente foi internado, acolhimento dado pelo hospital aos pacientes e familiares e tempo de espera para internação, entre outros quesitos.

Cada formulário respondido gerou uma nota. Para o Icesp a nota média obtida foi 9,65. O segundo colocado na pesquisa foi o Hospital Estadual de Américo Brasiliense, também da Secretaria, com média de 9,62, e o terceiro foi o Hospital do Câncer de Barretos, com nota 9,60 (veja relação completa abaixo).

Com cerca de 500 leitos, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo foi inaugurado em maio de 2008. É o maior centro especializado em oncologia da América Latina. No ano passado, realizou cerca de 11.000 internações.

Uma das características essenciais do Icesp é a inovação na assistência prestada, que permite ao paciente ter todas as fases de seu tratamento, a partir do diagnóstico até a reabilitação, integradas em um único local. Atualmente o instituto possui cerca de 50 projetos na área de humanização do atendimento a pacientes, familiares e funcionários.

 

Ranking e notas dos 10 melhores hospitais públicos, eleitos pelos usuários SUS/SP

1º – Instituto do Câncer do Estado de São Paulo “Octavio Frias de Oliveira” (capital) –9,652

2º – Hospital Estadual Américo Brasiliense – 9,623

3º – Hospital do Câncer de Barretos – 9,607

4º – Hospital Estadual de Ribeirão Preto – 9,581

5º – Hospital Estadual João Paulo II, de São José do Rio Preto – 9,565

6º – Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação Craniofacial (Sobrapar), de Campinas – 9,556

7º – Hospital Regional de Divinolândia – 9,507

8º – Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (Centrinho) de Bauru –9,477

9º – Hospital Pio XII de São José dos Campos – 9,465

10º– Hospital Estadual de Bauru – 9,449

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